O pé nº 44 da economia não cabe no sapato nº 40 da natureza. Precisamos adotar um novo conceito de desenvolvimento, separado da economia.
Em outro post que intitulei "Limite alcançado. E agora?", argumento que o fator mais poderoso no atual cenário da humanidade, porque está a condicionar-lhe o futuro, é o esgotamento dos recursos naturais produto da exploração desse recursos na produção e no consumo humano.
Em poucas palavras, chamei a atenção para o fato de que o total da produção e do consumo humano ultrapassou a capacidade de regeneração do meio-ambiente do planeta e que, consequentemente, a única saída é reduzir a produção e o consumo globais a um total sustentável, ou seja, que permita ao planeta renegerar-se. A humanidade vai ter de colocar o seu pé da economia ( produção+ consumo), nº 44, no sapato nº 40 da natureza. Simples assim. Evidentemente, de qualquer maneira, façamos o que façamos, vai doer. Experimente passar um dia andando com um sapato 4 números abaixo do seu, que você vai ter um idéia do que vem por aí. A situação da humanidade é essa!
No entanto, decorre dessa situação uma consequência interessante e inédita: os economistas terão de reiventar a economia como ciência e ramo do conhecimento... Calma, economistas, explico.
Acontece que todo o conhecimento acumulado pela economia, desde Ricardo, Stuart Mill, Adam Smith e outros, passando por Marx, Presbish, Caio Prado, Celso Furtado e mesmo o contemporâneo, Beluzzo, partiu do dado ”natural” de que o crescimento econômico era “A” meta única possível. Toda estratégia econômica conhecida, assim como toda teoria a ela associada, sempre foi estratégia de crescimento. Não existe, ao que eu saiba, teoria econômica partindo do “não-crescimento econômico”, como dado inicial, sequer no antigo mundo do socialismo real que sempre trabalhou com o mesmo paradigma do capitalismo, do crescimento infinito. Teoria contrária, que contrarie esse pressuposto do crescimento infinito simplesmente não existe e nem sei se PODE existir.
Há, no entanto, exemplos de países que conseguiram promover razoável desenvolvimento humano em ambientes de baixo ou nenhum crescimento econômico. Doravante, é bom que comecemos a pensar nisso de maneira sistemática, a pesquisar e estudar soluções nesse sentido, porque essa necessidade permanente já apontou no horizonte. Talvez estejamos testemunhando o nascimento de uma nova ciência econômica e uma nova teoria do desenvolvimento. Essa é a conclusão lógica final de um cenário no qual o planeta impõe limites para o a crescimento econômico, tida essa expressão como sinônimo de crescimento de produção e consumo. Num planeta finito, o crescimento não pode ser infinito e não será. Simples assim. O que podemos discutir é COMO distribuiremos os custos e como administraremos politicamente o processo. Já li textos que apontam para esse cenário, mas não vi nenhum que o levasse às suas conclusões finais, lógicas, econômicas e políticas. O velho dilema dos "canhões X manteiga", nesse cenário, ganha outras conotações e aponta para um novo mundo. É necessário levar as premissas às suas conclusões lógicas como forma de colocar a situação concreta e propor o estudo de soluções concretas para ela.
Há complicações políticas de primeira ordem nesse cenário, mas precisaremos enfrentá-las se quisermos evitar danos definitivos para o planeta e para a vida humana como a conhecemos.
O que será do capitalismo, que depende de uma lógica de crescimento metabólico e acelerado, para sobreviver, num planeta que impede que ele cresça? Sei lá, mas que o problema existe, existe, quer nós reconheçamos o fato, ou não. E não vai ser um piquenique. Disso tenho certeza. É minha única certeza
Minha proposta é, portanto, nada mais nada menos do que gerar uma nova ciência do desenvolvimento humano que descole, separe, de forma radical e defiinitiva, o conceito de desenvolvimento do conceito de economia. Desenvolvimento é algo que tem a ver com o crescimento das potencialidades humanas, independente do cenário econômico.
Esse é, doravante, o verdadeiro desafio do desenvolvimento: existir mesmo em cenários de pouco ou nenhum crescimento econômico.
Quem o exige, é o encontro do pé nº 44 da economia e da ciência humanas com o sapato nº 40 do planeta.
Homero-DF
Em outro post que intitulei "Limite alcançado. E agora?", argumento que o fator mais poderoso no atual cenário da humanidade, porque está a condicionar-lhe o futuro, é o esgotamento dos recursos naturais produto da exploração desse recursos na produção e no consumo humano.
Em poucas palavras, chamei a atenção para o fato de que o total da produção e do consumo humano ultrapassou a capacidade de regeneração do meio-ambiente do planeta e que, consequentemente, a única saída é reduzir a produção e o consumo globais a um total sustentável, ou seja, que permita ao planeta renegerar-se. A humanidade vai ter de colocar o seu pé da economia ( produção+ consumo), nº 44, no sapato nº 40 da natureza. Simples assim. Evidentemente, de qualquer maneira, façamos o que façamos, vai doer. Experimente passar um dia andando com um sapato 4 números abaixo do seu, que você vai ter um idéia do que vem por aí. A situação da humanidade é essa!
No entanto, decorre dessa situação uma consequência interessante e inédita: os economistas terão de reiventar a economia como ciência e ramo do conhecimento... Calma, economistas, explico.
Acontece que todo o conhecimento acumulado pela economia, desde Ricardo, Stuart Mill, Adam Smith e outros, passando por Marx, Presbish, Caio Prado, Celso Furtado e mesmo o contemporâneo, Beluzzo, partiu do dado ”natural” de que o crescimento econômico era “A” meta única possível. Toda estratégia econômica conhecida, assim como toda teoria a ela associada, sempre foi estratégia de crescimento. Não existe, ao que eu saiba, teoria econômica partindo do “não-crescimento econômico”, como dado inicial, sequer no antigo mundo do socialismo real que sempre trabalhou com o mesmo paradigma do capitalismo, do crescimento infinito. Teoria contrária, que contrarie esse pressuposto do crescimento infinito simplesmente não existe e nem sei se PODE existir.
Há, no entanto, exemplos de países que conseguiram promover razoável desenvolvimento humano em ambientes de baixo ou nenhum crescimento econômico. Doravante, é bom que comecemos a pensar nisso de maneira sistemática, a pesquisar e estudar soluções nesse sentido, porque essa necessidade permanente já apontou no horizonte. Talvez estejamos testemunhando o nascimento de uma nova ciência econômica e uma nova teoria do desenvolvimento. Essa é a conclusão lógica final de um cenário no qual o planeta impõe limites para o a crescimento econômico, tida essa expressão como sinônimo de crescimento de produção e consumo. Num planeta finito, o crescimento não pode ser infinito e não será. Simples assim. O que podemos discutir é COMO distribuiremos os custos e como administraremos politicamente o processo. Já li textos que apontam para esse cenário, mas não vi nenhum que o levasse às suas conclusões finais, lógicas, econômicas e políticas. O velho dilema dos "canhões X manteiga", nesse cenário, ganha outras conotações e aponta para um novo mundo. É necessário levar as premissas às suas conclusões lógicas como forma de colocar a situação concreta e propor o estudo de soluções concretas para ela.
Há complicações políticas de primeira ordem nesse cenário, mas precisaremos enfrentá-las se quisermos evitar danos definitivos para o planeta e para a vida humana como a conhecemos.
O que será do capitalismo, que depende de uma lógica de crescimento metabólico e acelerado, para sobreviver, num planeta que impede que ele cresça? Sei lá, mas que o problema existe, existe, quer nós reconheçamos o fato, ou não. E não vai ser um piquenique. Disso tenho certeza. É minha única certeza
Minha proposta é, portanto, nada mais nada menos do que gerar uma nova ciência do desenvolvimento humano que descole, separe, de forma radical e defiinitiva, o conceito de desenvolvimento do conceito de economia. Desenvolvimento é algo que tem a ver com o crescimento das potencialidades humanas, independente do cenário econômico.
Esse é, doravante, o verdadeiro desafio do desenvolvimento: existir mesmo em cenários de pouco ou nenhum crescimento econômico.
Quem o exige, é o encontro do pé nº 44 da economia e da ciência humanas com o sapato nº 40 do planeta.
Homero-DF