terça-feira, 10 de abril de 2007

O PÉ Nº 44 DA ECONOMIA NO SAPATO Nº 40 DA NATUREZA

O pé nº 44 da economia não cabe no sapato nº 40 da natureza. Precisamos adotar um novo conceito de desenvolvimento, separado da economia.

Em outro post que intitulei "Limite alcançado. E agora?", argumento que o fator mais poderoso no atual cenário da humanidade, porque está a condicionar-lhe o futuro, é o esgotamento dos recursos naturais produto da exploração desse recursos na produção e no consumo humano.

Em poucas palavras, chamei a atenção para o fato de que o total da produção e do consumo humano ultrapassou a capacidade de regeneração do meio-ambiente do planeta e que, consequentemente, a única saída é reduzir a produção e o consumo globais a um total sustentável, ou seja, que permita ao planeta renegerar-se. A humanidade vai ter de colocar o seu pé da economia ( produção+ consumo), nº 44, no sapato nº 40 da natureza. Simples assim. Evidentemente, de qualquer maneira, façamos o que façamos, vai doer. Experimente passar um dia andando com um sapato 4 números abaixo do seu, que você vai ter um idéia do que vem por aí. A situação da humanidade é essa!

No entanto, decorre dessa situação uma consequência interessante e inédita: os economistas terão de reiventar a economia como ciência e ramo do conhecimento... Calma, economistas, explico.

Acontece que todo o conhecimento acumulado pela economia, desde Ricardo, Stuart Mill, Adam Smith e outros, passando por Marx, Presbish, Caio Prado, Celso Furtado e mesmo o contemporâneo, Beluzzo, partiu do dado ”natural” de que o crescimento econômico era “A” meta única possível. Toda estratégia econômica conhecida, assim como toda teoria a ela associada, sempre foi estratégia de crescimento. Não existe, ao que eu saiba, teoria econômica partindo do “não-crescimento econômico”, como dado inicial, sequer no antigo mundo do socialismo real que sempre trabalhou com o mesmo paradigma do capitalismo, do crescimento infinito. Teoria contrária, que contrarie esse pressuposto do crescimento infinito simplesmente não existe e nem sei se PODE existir.

Há, no entanto, exemplos de países que conseguiram promover razoável desenvolvimento humano em ambientes de baixo ou nenhum crescimento econômico. Doravante, é bom que comecemos a pensar nisso de maneira sistemática, a pesquisar e estudar soluções nesse sentido, porque essa necessidade permanente já apontou no horizonte. Talvez estejamos testemunhando o nascimento de uma nova ciência econômica e uma nova teoria do desenvolvimento. Essa é a conclusão lógica final de um cenário no qual o planeta impõe limites para o a crescimento econômico, tida essa expressão como sinônimo de crescimento de produção e consumo. Num planeta finito, o crescimento não pode ser infinito e não será. Simples assim. O que podemos discutir é COMO distribuiremos os custos e como administraremos politicamente o processo. Já li textos que apontam para esse cenário, mas não vi nenhum que o levasse às suas conclusões finais, lógicas, econômicas e políticas. O velho dilema dos "canhões X manteiga", nesse cenário, ganha outras conotações e aponta para um novo mundo. É necessário levar as premissas às suas conclusões lógicas como forma de colocar a situação concreta e propor o estudo de soluções concretas para ela.

Há complicações políticas de primeira ordem nesse cenário, mas precisaremos enfrentá-las se quisermos evitar danos definitivos para o planeta e para a vida humana como a conhecemos.

O que será do capitalismo, que depende de uma lógica de crescimento metabólico e acelerado, para sobreviver, num planeta que impede que ele cresça? Sei lá, mas que o problema existe, existe, quer nós reconheçamos o fato, ou não. E não vai ser um piquenique. Disso tenho certeza. É minha única certeza

Minha proposta é, portanto, nada mais nada menos do que gerar uma nova ciência do desenvolvimento humano que descole, separe, de forma radical e defiinitiva, o conceito de desenvolvimento do conceito de economia. Desenvolvimento é algo que tem a ver com o crescimento das potencialidades humanas, independente do cenário econômico.

Esse é, doravante, o verdadeiro desafio do desenvolvimento: existir mesmo em cenários de pouco ou nenhum crescimento econômico.

Quem o exige, é o encontro do pé nº 44 da economia e da ciência humanas com o sapato nº 40 do planeta.

Homero-DF

quarta-feira, 4 de abril de 2007

LIMITE ALCANÇADO. E AGORA?

A Humanidade alcançou um estágio no qual a ciência já consegue calcular o efeito deletério de sua própria ação no meio ambiente e até estimar em quantos anos o esgotamento de recursos naturais tornará a vida humana incompatível com a sustentação de um habitat humano e, portanto, com a reprodução e continuidade da própria vida da espécie no planeta.

Esse é um fato hoje amplamente reconhecido e condiciona todos os demais. É a própria sobrevivência da espécie que está em risco. O que pode ser mais importante e urgente do que isso?

É um fato inegável e inédito que põe, para todos, países e pessoas, problemas igualmente inéditos que precisam ser enfrentados nos campos econômico, científico e político.

Alcançamos limites globais de produção e consumo para toda a humanidade que estão sendo impostos pelo limite da capacidade de autoreprodução do ecosistema humano. Portanto, ou construímos um novo padrão de existência da vida humana no planeta ou as consequências serão terríveis e sobre isso, a natureza tem nos dado avisos eloquentes.

Impõem-se, portanto, um novo tipo de organização da sociedade na sua vida econômica e científica e isso só será possível com uma nova política porque só ela pode reduzir a brutal desigualdade dos padrões de consumo e de vida entre populações de diferentes regiões do planeta, países e pessoas. Sustentabilidade global não pode existir com os níveis atuais de profunda desigualdade.

Justiça social e padrões mais igualitários de vida, tornaram-se condição para a mera sobrevivência da espécie tal como a conhecemos porque já chegamos no ponto da simples impossibilidade de todos crescerem, ao mesmo tempo, em produção e consumo. Esse é o maior problema político com o qual já se deparou a humanidade.

Como, nesse cenário, gerar um Plano Estratégico para o Brasil nas condições concretas de nossa vida interna e no conjunto dos países? Como se produz, para um país como o Brasil, um Plano de Desenvolvimento compatível com esse cenário planetário, nas condições políticas internas e internacionais reais que temos?

Não há respostas fáceis para essas perguntas, mas é bom que nos apressemos. Alguém já disse que a natureza não se defende das agressões que sofre, apenas se vinga e tudo indica que ela está, a cada, dia, mais impaciente.
Mamãe de acode!